Conhecidos os 9 artistas selecionados para o programa de residências artísticas do Azores 2027 a acontecer em todo o arquipélago
Já são conhecidos os nove artistas que, entre 30 de setembro e 4 de dezembro deste ano, vão estar em residência artística em todas as ilhas do arquipélago, no âmbito do projeto piloto criado pelo Azores 2027 – Candidatura de Ponta Delgada | Açores a Capital Europeia da Cultura, em parceria com o Arquipélago – Centro de Artes Contemporâneas e com a Associação Cultural Part’ilha.
Dentre as 358 candidaturas submetidas à convocatória “9 x 9 – Artistas são Ilhas, Ilhas são Artistas”, o júri selecionou nove projetos para residências artísticas nas áreas da música, da escrita, da fotografia, da arte têxtil e das artes performativas que abordam temas como a participação ativa das comunidades nos processos criativos, causas ambientais e políticas, a emigração e a criação de pontes entre a tradição e a contemporaneidade.
O projeto de residência selecionado para a ilha das Flores é da autoria de Vasili Andreyev, “América na Europa, Europa na América – Exploração fotográfica de uma das histórias da Ilha das Flores”. Natural da Bielorrússia a viver na ilha Terceira desde 2017, Vasili apresenta como ponto de partida para o seu trabalho a história verídica de 17 florentinos que, em 1919, enviaram uma carta ao então Secretário de Estado dos E.U.A., Robert Lansing, a propor a ocupação da ilha das Flores pelos americanos. O artista propõe analisar as histórias pessoais dos herdeiros destas 17 pessoas e responder à pergunta “o que é a ilha das Flores para eles hoje: é a Europa na América ou é América na Europa?”. O projeto vai materializar-se num livro de fotografias e textos.
A artista Berta Teixeira vai desenvolver o projeto “Número Nove / 9X9 = 81n / 8+1= 9” na ilha de São Miguel. Inspirada na epístola de Simão Gonçalves Toco, o líder religioso e nacionalista angolano deportado pelas autoridades coloniais portuguesas do Farol da Ponta Albina, Namibe, em Angola, para o Farol da Ferraria, em São Miguel, a artista pretende fazer uma Carta-Performance “com forte componente visual e narrativa adequada também a um público invisual e destinada ao mundo”, focada na Década da Ciência Oceânica para o Desenvolvimento Sustentável (2021-2030).
A proposta de residência selecionada para a ilha do Corvo é da artista luso-taiwanesa Ching-Yu Cheng, “‘Google Street View’ sobre rodas, a instalação artística móvel que documenta a paisagem dos habitantes do Corvo”. Quando a artista pesquisou a ilha do Corvo na ferramenta de mapas da Google descobriu que não existia a função de ‘Street View’ (representação virtual de lugares composta por imagens panorâmicas) e teve a ideia de criar uma instalação de arte móvel que funcionasse como dispositivo mímico da ‘Google Street View’. A instalação, que vai percorrer as ruas da vila do Corvo, será a forma de a artista se relacionar com a comunidade local, levando a arte à rua de forma “completa e física”. O resultado final será “uma paisagem única no Corvo, do ponto de vista cultural e humano, ao invés de produzir a ‘Street View’ da Google”. A artista propõe, ainda, que o dispositivo móvel funcione como uma banca de comida taiwanesa, promovendo a interculturalidade.
“Embarcações de Terra — Amarrações ao Mar” é o projeto de residência artística que vai decorrer em Santa Maria. Mariana Sales Teixeira (Açores) propõe “revolver as artes e artesanias tradicionalmente domésticas com as náuticas num projeto colaborativo e participativo com a comunidade local”. Depois de ser recolhido material têxtil que as pessoas da ilha queiram doar ou trocar (lençóis, toalhas, cortinas), a artista vai fazer uma recolha junto da comunidade piscatória e artesã de diferentes tipos de nós, amarras, laços, pontos em técnicas variadas, fazendo uso do material têxtil doado. O objetivo é produzir uma peça escultórica têxtil em colaboração com a comunidade.
“Old World – Terceira” da autoria da artista Margarida Correia foi a proposta de residência selecionada para a Terceira e consiste num projeto fotográfico com a comunidade luso-americana da ilha. A artista propõe-se a fazer retratos em ambiente doméstico, a pesquisar imagens de arquivo pessoal e a recolher histórias para construir novas narrativas. O projeto do artista Miguel Maduro Dias, natural de Angra do Heroísmo, “A água que temos e a água que nos falta”, foi o escolhido para decorrer na ilha Graciosa. Inspirado pelo tema da Água, Miguel propõe um projeto musical envolvendo coros, filarmónicas, escolas, artistas e a comunidade graciosense, estando previsto, também, um workshop coral e vocal.
“9 dias. 9 canções”, de Elina Stolde, artista da Letónia a viver no Porto, foi o projeto selecionado para a ilha de São Jorge e consiste na criação de nove canções com raízes na música tradicional açoriana, envolvendo grupos folclóricos jorgenses. Será, também, realizado um workshop de música tradicional letã. O projeto “boca do caminho”, da artista Lula Pena (Lisboa), será implementado na ilha do Pico e consiste “na elaboração de uma escrita, seja ela em texto ou imagem e em registos sonoros de conversas informais ou estruturadas com a comunidade local, assim como a captação de sons de campo, sejam de lavoura ou de lazer, ou simplesmente do quotidiano pessoal da comunidade”, tendo como objetivo a composição de uma peça de arte radiofónica.
“cartas de um vulcão para o mundo”, da escritora Judite Canha Fernandes (Açores), foi o projeto selecionado para a ilha do Faial e propõe “falar de voz e providenciar experiências literárias de narração na primeira pessoa, aproveitando o mote de uma residência na casa onde viveu o primeiro Presidente da República Portuguesa”. O projeto prevê, ainda, a realização de uma palestra e de uma oficina de escrita. Os textos que resultarem desta oficina serão enviados, em forma de carta, aos residentes da ilha do Faial.
Os nove artistas vão fazer uma residência artística durante 10 dias numa das ilhas açorianas, sendo que cada artista recebe um cachê de 1500€ (incluindo a taxa de IVA em vigor, se aplicável, e demais encargos), terá ao seu dispor uma bolsa de produção de até 1000€ e contará com apoio logístico que inclui alojamento, alimentação e transporte.
A Comissão de Apreciação do “9 x 9 – Artistas são Ilhas, Ilhas são Artistas” é constituída por João Mourão e Sofia Botelho (pelo Arquipélago – Centro de Artes Contemporâneas), Alexandre Pascoal (membro do Conselho Consultivo do Azores 2027) e por António José Silva e Mónica Benevides (elementos Part’ilha- Associação Cultural de Desenvolvimento Local).
Os critérios de avaliação foram a fundamentação e originalidade do projeto de residência artística (40%), a consonância com os objetivos do programa 9 x 9 (15%), a adequação do projeto de residência artística à ilha (15%), atividades de partilha e desenvolvimento de públicos durante a residência artística (10%) e a biografia e a experiência anterior do artista (20%).
Saliente-se que este programa de residências artísticas conta com o apoio de vários agentes e instituições de todo o arquipélago e com o apoio dos municípios das nove ilhas dos Açores.